quarta-feira, 6 de abril de 2011

Não escovar faz mal ao coração

O assunto “cuidados bucais” causa discussões recorrentes. Embora tenha consciência da importância da boa conservação dos dentes e das gengivas, experiências nada agradáveis com brocas e alicates na infância provocam verdadeira aversão a essa especialidade até hoje. Muitas pessoas ficam constrangidas ao admitir que as recomendadas visitas periódicas ao dentista sempre foram evitadas e adiadas ao máximo.
Muitos não sabem, mas as bactérias que atingem dentes e gengivas são fatores de risco para inflamações que acometem o ser humano da cabeça aos pés. Especialistas alertam que boa parte da população não se dá conta de que a boca não é uma estrutura à parte do corpo. Ao longo das últimas duas décadas, especialistas se debruçam em pesquisas que analisam a correlação entre as placas bacterianas e as cardiopatias. Exemplo recente é um estudo realizado na University College London com 11 mil pessoas. O trabalho confirmou risco 70% maior de doenças cardiovasculares em indivíduos que escovam os dentes com menos frequência. A média de idade dos entrevistados era de 50 anos.
A análise foi baseada na quantidade de visitas ao dentista, no número de escovações por dia, em detalhes sobre a pressão arterial e no histórico de doenças cardíacas na família. Em um período de oito anos de pesquisa, 555 participantes que mantinham os piores hábitos de higiene bucal tiveram doenças cardiovasculares. Desses, 170 morreram. Em 74% dos casos fatais, o principal diagnóstico era de doença coronariana.
Pesquisador do Departamento de Epidemiologia e Saúde Pública da Universidade de Londres (UCL), o médico brasileiro César de Oliveira, envolvido no estudo, avalia que males bucais crônicos, como a doença periodontal – causada entre outros fatores por uma pobre higiene bucal – contribuem para o aumento da inflamação sistêmica.
– Com isso, a possibilidade de desenvolver males cardíacos aumenta – alerta o pesquisador.
O cirurgião-dentista e especialista em saúde coletiva Júlio César é taxativo: as doenças da boca podem matar. De acordo com ele, 40% das endocardites bacterianas – infecções do endocárdio – têm como causa as doenças bucais. Desse universo, 20% dos pacientes não resistem a essas patologias.
– é uma questão de saúde pública. Praticamente 100% da população teve, tem ou terá cárie e doenças das gengivas, que são os problemas mais comuns da boca. As bactérias bucais caem na corrente sanguínea e se alojam nas paredes do coração, desencadeando todos esses danos – explica Júlio César.
O especialista acrescenta que os processos infecciosos bucais se disseminam para o resto do corpo e podem afetar, inclusive, o cérebro. Como parte do aparelho estomatognático, a boca é importante para a fala, a deglutição e a mastigação.
– é a porta de entrada para a saúde. Se não cuidada, porém, a boca pode ser um portal para as doenças.
As cáries e gengivites são as mais comuns. Embora a incidência tenha diminuído nos últimos 10 anos, os brasileiros ainda sofrem com elas.
O cirurgião-dentista Haroldo Hab observa que os problemas gástricos decorrentes das bactérias bucais também são frequentes entre os pacientes da terceira idade. Hab reforça que as doenças são multifatoriais e que as placas bacterianas maximizam as chances de a pessoa desenvolvê-las.

http://www.clicrbs.com.br/dsm/rs/impressa/4,40,3238679,16685

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